domingo, 28 de junho de 2009

Oásis

Para Michael Jackson (In Memorian)

A morte de Michael Jackson chocou todo mundo. Em várias declarações, ouvi que ele sempre foi o tipo de pessoa que ninguém imagina que vai morrer. O impacto da notícia tida como improvável é o que nos indica quão frágil é a vida; e ainda que possa não parecer, tão rara... Tão rara... Quase sempre é árida, seca. E comemos areia que, às vezes, também entra em nossos olhos, machucando, cegando... Mesmo assim, todos queremos viver, continuar respirando esse ar denso e torturante. E ele queria, como queria...

Ontem, vi um especial da vida de Michael feito em 88. Puxa, eu realmente fiquei emocionada! Por que as pessoas não tentaram vê-lo daquela forma bonita quando houve aqueles escândalos em torno de sua vida pessoal? Por que agora - só agora que ele já está morto e não pode ouvir nem ver o quanto ele era realmente admirado - as pessoas falam essas frases feitas? Prefiro não comentar...

A vida dele pode parecer, para muita gente que acha que fama e dinheiro resolveria a aridez da vida, uma maravilha. E tudo indica que não era. A dor da alma passa para o corpo. E que recurso uma pessoa pode achar que não seja uma droga - Demerol, Rivotril, Fluoxetina, Paroxetina - qualquer uma que possa aplacar uma dor surda e, ao mesmo tempo, gritante? Quem pode condenar alguém por querer fazer com que a dor cesse, quem pode?

Nas últimas semanas, tenho sofrido silenciosamente. Analgésicos e calmantes tem tido, para mim, um tremendo poder de sedução. Eu resisto o quanto posso. Mas me entrego quando dói demais. Ninguém deve ficar com dor - ninguém.

Existe uma dor que não sara com remédio - é a dor da solidão, a dor de não saber o que fazer quando não há o que fazer, a dor de não saber esperar, de não ter confiança nem fé no amanhã, a dor do niilismo, da falta do "algo a mais" que a gente nem sabe o que é exatamente.

Hoje estava pensando num remédio pra essas dores. Acho que encontrei um que talvez sirva para quem possa precisar. Ele não tem preço, não se compra em farmácia. Ninguém pode nos dar - só a gente mesmo, quando quiser, quando precisar. Ele está dentro de nós, numa parte do nosso ser que a gente dá o nome de memória e é um derivado da lembrança. Meu remédio é aquela coisa mágica que faz os Dementadores desaparecerem, que conjura o Patrono - uma lembrança boa, a melhor que pudermos imaginar...

[Um dia de quase outono. Uma praia deserta, o cheiro do mar e barulho das ondas batendo nas pedras. Uma tremenda suavidade e um sentimento de eternidade indescritível...]

Alvorecer com a Pta. Negra ao S do Morro da Armacao de Itapocoroi (Penha - SC) no través


Dei a ele (esse meu remédio) o nome de Oásis. Seria algo como o nome comercial. O nome real - o "composto ativo" - tem quatro letras...

Descanse em paz, Michael!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A finalidade da minha existência

Um dos clássicos da MPB, favorita de muita gente, a canção "O que é, o que é?", do Gonzaguinha nos traz uma bela reflexão sobre uma palavra - um substantivo, um verbo: vida, viver. Ele e todos que gostam de cantar essa música, preferem a "pureza da resposta das crianças". Outros, todavia, preferem a "objetividade" da resposta de Schopenhauer: "Viver é sofrer". Ambos preocuparam-se em definir o que é aquilo que chamamos vida, dar um conceito sobre o viver. Mas nenhum dos dois se ocupou em responder sobre a finalidade da vida.

Particularmente, gosto da letra de Gonzaguinha - otimista. Entretanto, não posso negar que Schopenhauer - pessimista - me soe muito mais realista. Desde o momento que chegamos nesse mundo, sofremos. Somos arrancados do útero de nossas mães - quentinho, seguro - e somos obrigados a respirar! Ninguém se lembra como é a sensação. Deus deve ter sido muito generoso por não deixar que a gente se lembre disso pois me parece ser um processo muito, muito doloroso... Já parou pra pensar quanto sofrimento passa um pequeno ser apenas por (lutar para) viver? É dor de barriga, dor dos dentes nascendo, uma série de doenças e dores expressas no choro estridente de quem não sabe ainda suportar em silêncio a dor física.

Hoje, não por acaso, pensei em todas as dores sofridas - físicas e psicológicas - pelas quais passei nessas mais de 3o primaveras: os joelhos ralados das quedas, o dia em que eu quebrei o braço esquerdo (anos mais tarde quebraria também o direito), a primeira (única e última) surra que eu levei do meu pai... As doenças: catapora (ainda me lembro do corpo febril e das feridas que coçavam terrívelmente), rubéola, cachumba... e os inúmeros resfriados (e as injeções de Bezetacil). Depois, as terríveis cólicas menstruais e as dores mais excruciantes do mundo: enxaqueca crônica, cólica renal e... a dor de um aborto espontâneo. É tanta dor física que eu já experimentei que costumo dizer que quando eu morrer, nem vou saber que estou morrendo. As psicológicas: o deboche por ser magra demais, ser preterida no jardim da infância pela professora por não ser a "mais bonita", a "mais rica" e a "mais inteligente", ficar sempre em último lugar na família e ter que aprender a fazer tudo sozinha desde muito, muito cedo. Depois, o escárnio por ser gorda demais, o desprezo por ser "inteligente demais"; amar uma pessoa - aquela que a gente pensa que é pra sempre - e ser abandonada por ela e preterida por outra. Amar outra pessoa e ser abandonada (de novo), sem a menor explicação. Amar uma pessoa - a que você pretende e tem fé que seja finalmente aquela que te completa - e ouvir dela todas aquelas coisas que te fazem sentir a agonia de estar vivo, de "ter que" continuar existindo, apesar de.

É, Schopenhauer tem toda razão. Nem as pequenas, nem as grandes alegrias, cobrem a multidão dos meus sofrimentos. Todavia, como todo mundo, nas palavras de Gonzaguinha, não quero a morte. Não porque a temo. Ao contrário, todas as dores que sofri e que tenho a certeza absoluta de que ainda vou experimentar até que o último sopro de vida deixe meu corpo me fazem saber que morrer é a consequência que, entendida, deve ser simplesmente aceita.

E sobre a finalidade da Vida, afinal? Que me perdoem o imenso preâmbulo para o registro de algo muito, muito simples sobre a minha razão de existir: eu existo para fazer feliz as pessoas. Eu quero isso. Eu vim a esse mundo para trazer alegria, amor, paz e felicidade para quem estiver no meu caminho. É por isso que eu estou aqui. É por isso que eu quero viver. Descobri, muito de repente, que fazer as pessoas felizes é a maior alegria que podemos ter - uma que não se compra com dinheiro - e a maior tristeza que podemos experimentar é de causar o sofrimento dos outros. Se a grande luta dos (sobre)viventes é ser feliz, a finalidade da minha existência, enquanto eu tiver forças para continuar nesse mundo, é essa: nunca magoar ou ferir quem quer que seja e proporcionar felicidade. Assim, meus amigos, entre Gonzaguinha e Schopenhauer, fico com Guilherme Arantes e o seu Brincar de Viver...



P.S:Antes de escrever esse post, conversei longamente com uma amiga querida - a @Dea_Brat - sobre a vida e aqui ela escreveu algo bastante bonito sobre o que ela pensa...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Top 5 - parte V

Chegamos ao topo do top! E enfim o Dia dos Namorados chegou...

Meu namorado diz que não gosta de contar o tempo. E de fato, ele nunca conta. E nunca comemoramos o dia em que começamos a namorar. Sei que ele se lembra, mas não marcou no calendário o dia do nosso primeiro beijo e como ele foi. Eu me lembro até hoje da sensação. E da série de eventos "místicos" que nos aproximou e me fez ter a certeza de que eu e ele somos um do outro. Foi num dia 13/06. Vimos um filme nada romântico - "O Advogado do Diabo" - num cinema que nem existe mais - do extinto Central Shopping (que não tinha nada de central). Isso foi há tanto tempo... É... muita coisa aconteceu de lá pra cá. Coisas que nenhum de nós sequer imaginaria...

A música escolhida para ser a nº 1 já esteve aqui no blog. Pasmem! Num dia 12! Em outubro... E eu também tinha estado resfriada, como estou agora. E hoje também estou, melhor. O que eu disse naquele dia 12, cabe muito bem para o 12 de hoje. Mas a justificativa para que essa música seja a minha #1 desse top 5 é que esse vídeo expressa de uma maneira muito delicada o amor entre duas pessoas. A letra fala de como eu me sinto em relação ao que eu (ainda) sinto pelo meu namorado depois de todos esses anos juntos. Tentarei traduzir:

Our love has changed,
It’s not the same,
And the only way to say it
Is say it .. it’s better.

(Nosso amor mudou, não é mais o mesmo... e o único jeito de dizer é dizer que ele é... ele é melhor)

I can’t concede,

This way I feel,
For all the time we spent, together,
Forever .. just gets better.

(Não posso te explicar claramente o jeito que eu me sinto... por todo esse tempo que passamos juntos, pra sempre... apenas tem se tornado [a cada dia] melhor)

See what I’m trying to say is:
You make things .. better
And no matter what the day is,
With you here .. it’s better.

(Veja, o que eu estou tentando dizer é que você faz as coisas... melhores. E não importa qual dia seja, com você comigo, [sempre] é melhor)

I’ll stand by you,
If you stand by me.
I think time that I, reveal it,
‘Coz I believe it
It’s better

(Eu te apoio se você me apoia. O tempo revela isso para mim, porque eu acredito... É melhor)

See what I’m trying to say is:
You make things .. better
And no matter what the day is,
With you here .. it’s better

(Veja, o que eu estou tentando dizer é que você faz as coisas... melhores. E não importa qual dia seja, com você comigo, [sempre] é melhor)

Ooh the more I .. talk .. to .. you
The more in love with
E .. vry .. thing .. you .. do

(E quanto mais eu falo com você, mais eu me apaixono por tudo que você faz)

Doo doo doo doo doo doo

See what I’m trying to say is:
You make things .. better
And no matter what the day is,
With you here .. it’s better

(Veja, o que eu etou tentando dizer é que você faz as coisas... melhores. E não importa qual dia seja, com você comigo, [sempre] é melhor)

Our love has changed
It’s not the same
And the only way to say it
Is say it .. it’s better

(Nosso amor mudou, não é mais o mesmo... e o único jeito de dizer é dizer que ele é... ele é melhor)

Dedico essa canção a todos os apaixonados de hoje, em especial meu amigo @Nmarques e sua namorada, a quem esse vídeo me faz recordar um momento especial deles e que acabou se tornando meu também.

FELIZ DIA DOS NAMORADOS!




quinta-feira, 11 de junho de 2009

Top 5 - parte IV

Oi zentes! Vim postar rapidinho a 2ª colocada. Essa deveria, na verdade, ser a #1!! No meu coração e no de muita gente, aliás, ela é. Minha eleita de amanhã também tal vez seja uma escolha injusta, tamanha a beleza da que eu deixei ficar em 2º lugar. Amanhã, espero que vocês entendam...

Essa música é trilha sonora do dia dos namorados pra sempre! Acho que isso ficou ainda mais claro pra mim quando a MTV, na década de 90 - não sei se foi 92, não me lembro mais... - fez um especial dos Namorados daquele ano. A vinheta era essa música. O programa especial trazia vários artistas escolhendo as músicas mais românticas e declarando seu amor... Foi a melhor fase da MTV pra mim... Hoje em dia, não consigo mais assistir. Uma pena mesmo, foi uma época tão boa!

Parece muita coincidência que mais de uma música desse top 5 seja da década de 70, mas o que eu posso fazer se as melhores canções são da década em que eu nasci? Foi uma época em que ainda havia quem sabia fazer música de amor de verdade, sem ser baba demais, sentimental na dose certa. Mas o fato é que essa música, na verdade, foi feita na década anterior! Vamos entender melhor...

Se tínhamos aqui Sandy & Jr (talvez a comparação não seja muito feliz, reconheço - mas não pude evitar! xD), na época havia Karen & Richard - The Carpenters. Eles estiveram no topo das paradas americanas muitas vezes. Suas versões para canções famosas - tais como "Please, Mr. Postman" (The Marvelettes) e "Ticket to ride" (The Beatles) - foram e são até hoje muito reconhecidas. Inclusive, "Close to you", composta por Burt Bacharach e lançada em 1963, interpretada por Richard Chamberlain (ator americano muito famoso como Dr. Kildare (Alô, Dr. House!), mas em minha memória importalizado pelo personagem Ralph de Bricassart, em Pássaros Feridos - originalmente The Thorn Birds), com título original "They Long to Be Close to You". No mesmo ano, Dionne Warwick a interpreta e grava como demo, regravada no ano seguinte com novo arranjo do compositor para a cantora. A versão ficou registrada como Lado B da cantora (1965), em "Here I am". Curioso como uma canção, aparentemente obscura, tornou-se um grande hit na década seguinte, na voz de Karen...



Infelizmente, Karen sofria de um mal hoje bastante conhecido e tratável, se detectado precocemente: Anorexia nervosa. Veio a falecer, muito jovem, por complicações causadas por esse distúrbio...

P.S: Eu estava me lembrando que o dia 12/06 não é uma data especial para "nós" (eu e meu namorado), mas sim o dia 13/06... Amanhã vou contar tudo! Aguardem... ;)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Top 5 - parte III

A 3ª colocada é uma música muito conhecida na voz de uma mulher. Nicollete Larson ganhou "Lotta Love" de presente (se não me engano) em 1978 do mestre das baladas inabaláveis Neil Young. A música ganhou fama na voz dela, mas a versão do compositor me agrada muito mais.

Uma pena não ter encontrado o vídeo dele e nem ter um decente dela pra pôr aqui... Mas dá pra curtir assim mesmo... Juntinho, bem a dois!

Edit: A versão da cantora foi gravada posteriormente à de Neil Young, com um arranjo bem diferente. A versão original foi realmente gravada em 1978, no álbum "Comes a time" (aliás, meu favorito dele!). A versão de Nicollete fez muito muito sucesso mesmo, mais do que a original...


Top 5 - Parte II

Hoje foi um dia estranho. Não entrarei em detalhes. Só digo que terminou bem, afinal...

E então? Qual será a música nº 4 da listinha das mais românticas? Olha, a lista original tem mais de 5 e está muito, muito difícil selecionar...

Sinto muito se vai parecer que essa lista só vai ter música dos Beatles. Na verdade, essa é de um dos Beatles. Não é o meu predileto. O meu beatle favorito foi e sempre será o George. Logo a seguir, vem ele: o John. Integrados, eles formavam um só corpo. Assim, para mim, George era o espírito; John, o coração. O Paul sempre foi fera nas baladas românticas. Mas a paixão de John por Yoko rendeu uma das músicas mais românticas do mundo, na minha humilde opinião. Quem não queria ser uma Yoko para ouvir do amado essas palavras: "Mulher, eu quase não consigo expressar minhas emoções confusas na minha negligência. Afinal de contas, estou eternamente em dívida com você. E, mulher, eu tentarei expressar meus sentimentos interiores e gratidão por me mostrar o significado do sucesso (...) Então, deixe-me te dizer de novo e de novo e de novo: Eu te amo, sim, sim, agora e eternamente."


segunda-feira, 8 de junho de 2009

Top 5 - parte I


Hoje não vou falar do que eu queria. Ou pelo menos do que eu deveria... Essa semana será dedicada aos apaixonados, aos românticos inveterados... ao Dia dos Namorados.

Essa época do ano é minha favorita! O tempo esfria. As pessoas ficam mais bonitas. Os programas que eu mais gosto ficam mais gostosos: ficar em casa, ver um filminho, tomar um chá quentinho adoçado com mel, um capuccino ou um leite com chocolate. Ficar na cama, ler um livro... Ficar juntinho, abraçado, aconchegado! No frio é muuuuuuuuuuuuuito melhor, não é?

Eu me recordo do primeiro Dia dos Namorados que eu passei desde que meu coração se abriu para a "minha pessoa". Eu lembro que marquei, num dia frio e gostoso como esse, um encontro com ele numa livraria chamada Liber. Eu esperei por ele lá... Vi os livros. Vi um chamado "Contato" - que virou filme e depois vimos juntos. Não comprei. Ele não foi. Mas a sensação de esperar, de estar apaixonada, de amar... Lembrar, muitas vezes, é melhor que a experiência em si... Melhor... Muitas vezes!

O Top 5 começa hoje. Será uma espécie de countingdown para o dia mais romântico do ano - segundo apenas o calendário. Dias românticos podem ser quando a gente quiser, acreditem-me! A 5ª canção mais romântica do mundo pra mim é If I fell, dos Beatles. Ela ficou belíssima no filme "Across the Universe" - que é um filme altamente recomendado para essa semana romântica!


quinta-feira, 4 de junho de 2009

Meme do Beijo

Em clima de Dia dos Namorados, fui indicada pela @elfinha para participar do Meme especial sobre Beijo. Romântico - sem dúvida. Então tá, né? 'Bora participar...

1. Qual seu beijo de filme favorito?

Nossa, vou ter que pensar...
(30 minutos depois...)
Várias, mas essa cena é a minha favorita de todos os tempos!


2. Onde você deu seu primeiro beijo?
Tecnicamente meu primeiro beijo foi num ônibus, com meu primeiro namorado, quando eu tava voltando do Colégio, aos 15 anos.

3. Quando você deu seu último beijo?
Não faz tanto tempo assim... Mas prefiro não comentar!

4. Diga um sabor bom pra um beijo.
Se tivesse gosto de Melona, ia ser melhor ainda!

5. Qual o cenário mais bonito onde você já beijou?
Que cenário? Eu tava de olhos fechados, uai! hahahaha...

6. Qual a música ideal para beijar?
Stop, look, listen (tema do beijo da Bridget Jones)

7. Depois da boca, onde você mais gosta de beijo?
Nuca, bem pertinho da orelha...

8. Em que celebridade/ personagem você daria um beijão?
De língua? Eu beijaria o Takeshi Kaneshiro

9. Qual a melhor hora pra beijar?
Toda hora, todo minuto, a cada segundo! Beijar é bom demais...

Indico: Dri (do Kanten Blog), Má_r (do Mãe, tou sem roupa), Cláudia e Andrea (do Superzíper), TioTaba (do Marmota Lasciva), Cherry Bomb81 (do Cherry Bomb 81), Thais (do Thais.Defenestrando), Deilse (do Sweet Thoughts), LadyShampoo (do Shampoo.art.br) e Nana (do Fragmentos)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Não aprendi a brincar de soltar papagaio


Soltar papagaio (é assim que em Minas nós chamamos a pipa) é brincadeira de menino, determinaram. Aliás, há muitas coisas só de meninos que meninas não podem. E na minha cabecinha de criança, eu não entendia porque não. Eu via os meninos andando sem camisa na rua - menina não pode; lá ia eu cobrir minhas "vergonhas". Fazer e soltar pipa então era o tabu supremo. Eu via meu irmão mais velho no maior empenho preparando as taquaras de bambu, montando com papel de seda, fazendo rabiola com plástico de saco de lixo, socando vidro pra fazer cerol... Era a brincadeira predileta dele. Ele não me ensinou. Ninguém nunca.

Às vezes, penso que uma pipa voando na imensidão do céu é a metáfora perfeita da minha vida. Sinto-me presa por uma linha - longa, mas frágil - bailando no vento... Tento ir pra esquerda, me puxam pra direita. Dou uma pirueta, danço como posso. Luto contra e a favor do vento. Sou um pontinho minúsculo e colorido enfeitando a imensidão azul. Minha linha não tem cerol. Qualquer um pode vir querer me tosar. E tentam. E tentam. Mas o Soltador de Pipas é habilidoso. Ele dá um jeito de fugir e me manter bailando no Infinito.

Se um dia o vento me rasgar, que Ele me repare, me conserte. Mas se um dia a linha se desgastar, se arrebentar e eu cair, que seja suave a queda e que eu pouse nas mãos de quem me queira bem.